Essa foi a pergunta que um grupo de meninas me fez quando abri a porta atendendo ao chamado da campainha.
"Que susto!" Brinquei ao ver aquelas carinhas com maquiagens assustadoras com chapéu em formato de cone, trajando roupas pretas e um estranho saco nas mãos.
As bruxinhas estavam soltas e eu nem havia me dado conta de que era o tal "Halloween". Como não tinha doces em casa, tive meu tapete da entrada virado de ponta cabeça, bolas de papel espalhadas pelo chão e alguns metros de papel higiênico cruzando minha porta.
Poderia ser uma data festiva qualquer com crianças inocentes se divertindo e "aprontando" com a vizinhança, se não tivesse uma origem obscura envolvendo espíritos, rituais, medo, maldades e outras coisas sinistras.
O "Halloween" tem origem com os antigos Celtas, um povo pagão que se espalhou pela maior parte do Oeste da Europa a partir do segundo milênio a.C. E que tinha como sua divindade maior o deus sol.
Esse povo acreditava que a virada do ano deveria ser comemorada na última noite do mês de Outubro porque nesse dia havia uma fragilidade no véu que separava o nosso mundo do mundo dos mortos. Assim, seria possível a comunicação com os que já haviam partido.
Acreditavam também que os espíritos dos mortos retornavam ao seu antigo lar em busca de contato com os entes queridos e os vivos deveriam providenciar uma festa com alimentos para esses espíritos, caso contrário eles atormentariam os vivos promovendo travessuras terríveis. Seria uma noite de horror!
Creio que muitos pais que permitem e incentivam seus filhos participarem do "Halloween" desconhecem a verdadeira origem da festa e o objetivo desta celebração.
O envolvimento é tão grande, que comprar fantasias e estudar maquiagens que fazem referência ao suicídio ou à morte viram uma diversão literalmente mascarada. E muitos pais acham graça nos pulsos costurados, no sangue dos simulados ferimentos, na exaltação da morte. O que estamos comunicando para as crianças neste momento é que morrer e matar pode ser divertido.
Infelizmente essa chamada comemoração acontece ironicamente no mês seguinte ao Setembro Amarelo, que tanto conscientiza sobre as apologias à morte. E parece que de um mês para o outro o alerta perde o sentido e pela brincadeira vale tudo.
O mais triste é que as bruxas continuam soltas hoje em dia, pois nunca se ouviu falar tanto sobre crianças e adolescentes perturbados com pensamentos suicidas, automutilação, tristezas persistentes e profundas, impulsividade e atitudes violentas que chocam a sociedade inteira e até os mais experientes nas maldades humanas.
Crianças são altamente influenciáveis e essa é uma das razões mais sérias para que nós pais tenhamos cuidado com os tipos de estímulos que colocamos à sua disposição ou permitimos que eles mantenham contato. Sejam eles jogos, filmes, brincadeiras, roupas, fantasias ou até um aparentemente ingênuo desenho animado. Crianças são esponjas que absorvem coisas boas e ruins do meio em que estão inseridas. Tudo que eles aprendem contribui na construção dos valores que nortearão as condutas e formarão a personalidade de cada um.
Num mundo cada vez mais hostil, é nosso dever proteger nossos filhos de influências negativas que não acrescentam paz, camuflam a verdadeira alegria ou trocam maldade por balas e guloseimas.
A diversão saudável pode ser todos os dias, com doces beijos de mãe e muitas travessuras dentro de um espaço que se fizer pequeno diante de tanta criatividade e imaginação para fantasiar a vida em vez da morte.
Neia Dutra é mãe, psicóloga, coordenadora doProjeto Escola de Mães