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Após perder emprego, skatista quer retomar aulas para mulheres

Cris Punk, que anda na prancha desde 1999 e é atleta profissional, quer voltar a se dedicar a projeto que criou com amiga em 2016

Viva a Vida|Brenda Marques, do R7

Cris Punk anda de skate há mais de 20 anos: 'É um estilo de vida'
Cris Punk anda de skate há mais de 20 anos: 'É um estilo de vida' Cris Punk anda de skate há mais de 20 anos: 'É um estilo de vida'

Entre 1999 e 2000, Cristiane Andrigo, conhecida como Cris Punk, começou a andar de skate. Pegava o equipamento emprestado do irmão e “ia brincar na rua com os meninos”, descreve. Na época, ela tinha 17 e uma filha de 2 anos de idade. Como ao longo de toda a sua vida, precisava conciliar o trabalho formal, de vendedora em uma loja de games no bairro Santa Ifigênia, em São Paulo (SP), com a prática do esporte - que dez anos antes havia sido proibida na cidade de São Paulo - para sobreviver.

E, apesar disso, e de outras dificuldades que viria a enfrentar, ela sempre acreditou em si mesma e no skate, a ponto de criar um projeto para ensinar outras mulheres a praticar essa atividade - uma iniciativa que está em vias de ser retomada. Em especial neste momento em que Rayssa Leal conquistou a prata em Tóquio 2020 e passou a inspirar meninas e mulheres a se dedicar ao skate também.

Dificuldades e superação

“Eu conhecia um tio e guardava meu skate e a minha roupa na lanchonete dele. Quando acabava [o expediente], eu já trocava de roupa e saía para andar de skate”, lembra Cris sobre o começo de sua trajetória.

Ela é praticante de downhill (morro abaixo, na tradução do inglês), modalidade que consiste em descer ladeiras praticando manobras e exige o uso de um traje específico, além de tornozeleira e luvas.

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Seu último emprego fez com que ela não tivesse mais tempo para se dedicar às aventuras e campeonatos sobre quatro rodas. Durante dois anos e meio, ela acordava às cinco horas da manhã para ir de sua casa no Itaim Paulista, bairro na zona leste da capital paulista, até a loja onde trabalhava como vendedora, no Brás, centro da cidade, das 8h às 18h.

“Era uma hora para chegar [no trabalho], mas aí você coloca o agravante de que às vezes o trem não funciona e aí acontecia de eu chegar atrasada, então eles descontavam do meu salário”, conta. “Nessa época, me afastei total do skate. Eu trabalhava de segunda a sábado e ficava muito cansada”, acrescenta.

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Perda de emprego e recomeço

No começo da pandemia de covid-19, Cris perdeu o emprego. Até o momento, ela conseguiu se sustentar com o dinheiro que recebeu em sua rescisão e a venda de vasos de plantas feitos com materiais recicláveis. Mas sua principal ideia para recomeçar é voltar a ensinar outras mulheres a andar de skate.

Em 2016, mesmo ano em que se tornou atleta profissional, Cris criou em parceria com sua amiga Andrea o “Skate para Meninas”. Apesar do nome, o foco das duas estava em mulheres de 25 anos para cima.

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“Nosso público estava direcionado para mulheres mais velhas porque a gente queria mostrar que elas podiam andar de skate. Em uma certa idade, você chega na crise existencial e o skate seria uma válvula de escape”, explica.

De acordo com ela, havia cerca de 12 alunas - as mais velhas tinham 39 e 42 anos. As aulas aconteciam em parques, como o Ibirapuera, ou no Museu do Ipiranga. Mas em 2018 tudo foi interrompido por falta de estrutura.

O impulso de Rayssa Leal

A conquista histórica de Rayssa Leal na final do skate street em Tóquio 2020 foi mais um impulso para que Cris retomasse essa empreitada. No mesmo dia em que a skatista de 13 anos levou a medalha de prata para o Brasil, veio a oportunidade de divulgar o projeto em um grupo do Facebook criado para fortalecer o trabalho de mulheres.

Uma menina fez uma publicação dizendo que estava à procura de uma professora de skate. Então, Cris mencionou o "Skate para Meninas" nos comentários, explicou que é atleta profissional e deixou seu telefone.

“Três meninas entraram em contato comigo. E aí eu falei com a Andrea, porque o projeto era meu e dela”, afirma. “Quero fazer algo justo [em termos de preço]”, completa.

Atualmente, Andrea mora na Bahia, mas Cris espera ter a ajuda dela - principalmente no quesito organização - para concretizar o retorno das aulas.

Skate como estilo de vida

Cris, que foi campeã brasileira de longboard feminino pelo circuito Slide Liga Brasil em 2014, já conquistou o primeiro lugar do pódio em outras diversas competições de skate e mostrou seu talento em vários lugares - desde ladeiras históricas para os praticantes de downhill em São Paulo, até o Chile, onde ganhou três medalhas - diz que “está meio perdida” sobre como fazer o projeto se concretizar novamente.

“Sinceramente, eu estou num misto de emoções depois que passou o tornado dessa pandemia. Só queria ajudar no sonho de outras pessoas, de repente montar uma escolinha de skate”, desabafa. “A ideia é dividir tudo que aprendi, mas aí fico pensando que é muito difícil começar algo sem dinheiro”, acrescenta.

A despeito do preconceito por ser mulher, mãe, e nunca ter conseguido tirar seu sustento do skate, já que sua extensa lista de pódios conquistados raramente foi recompensada com dinheiro, Cris afirma com orgulho: “Para mim, o skate é muito mais que um esporte, é um estilo de vida.”

A primeira barreira que encontrou para poder andar de skate estava dentro de sua própria casa. “Minha mãe veio de uma família muito conservadora, então para ela foi chocante na época. Eu lembro que teve uma festa de Natal e todos os meninos ganharam um skate, eu fiquei super triste porque meu presente foi um urso de pelúcia”, lembra.

“Às vezes, eu fico triste. Mas olho para trás e percebo que já fiz muita coisa. Minha mãe fala 'fez tudo isso e continua pobre' e eu respondo 'mãe, a pobreza é o estado de espírito da pessoa'”, conta.

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