Que atire a primeira furadeira a mulher que nunca sentiu aquele constrangimento de esquentar as bochechas ao pedir ajuda de um parente para perfurar uma parede. Ou, pior ainda, sentiu um arrepio na espinha ao ter que acionar um desconhecido para trocar o chuveiro em casa. Foi pensando nisso que a empresária Thais Nobre, de 26 anos, criou o ciclo de oficinas 'Se vira, mulher'. A iniciativa, que surgiu em 2017, ensina a mulheres noções básicas de mecânica, elétrica e marcenaria para que possam realizar reparos em casa sozinhas.
No Blog da DB: Ajuda com pneu furado: infelizmente, não dá para arriscar
"Existe bastante uma insegurança plantada pela sociedade que diz que esse não é um trabalho de mulher", explica a fundadora, que também é formada em engenharia de automação. "Eu costumo dizer que as mulheres que chegam estão rompendo duas barreiras: a de estar aprendendo algo novo e a de se inserir em uma atividade que foi negada a elas durante toda a vida."
A noção de que existem serviços que 'não são para mulheres' é mais nociva do que o mero constrangimento. No país que ocupa o quinto lugar do ranking de mortes violentas de mulheres no mundo, esse é o senso comum que também coloca mulheres em posição de vulnerabilidade, como foi o caso da jovem de 19 anos Mariana Bazza, encontrada morta após receber 'ajuda' de um desconhecido para trocar o pneu do carro que ele mesmo havia furado.
"A gente recebe muitos relatos de assédio e violência partindo de prestadores de serviço no geral. Muitas das nossas alunas moram sozinhas e ficam inseguras com essa situação", explica Thais. "Outro grande problema é a enrolação. As alunas estão exaustas de levarem o carro na oficina e serem enganadas porque o mecânico pensa que elas não entendem nada daquilo, e oferecem serviços sem necessidade". Para a empresária, ter noções básicas desses reparos significa correr menos risco de passar por situações perigosas.
Tornar-se dona de si é buscar ser cada vez mais autônoma
Além da segurança abraçar uma vida mais independente representa o lado mais leve da moeda. Segundo Thais Nobre, suas alunas vêm de diferentes contextos: de mulheres que acabaram de se divorciar a "senhorinhas viúvas que se lamentam por não terem quem faça isso por elas". "Todas saem confiantes e animadas. É tocante", diz.
O programa oferece pelo menos sete cursos, entre elétrica, pintura e mecânica. E, para quem ainda prefere não botar a mão na massa, a iniciativa também mapeia mulheres que prestam os serviços. Acompanhe abaixo: