Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Análise: A lógica ininteligível do politicamente correto

Em época de sinalização de virtude e hipocrisia a toda prova, há quem veja preconceito em tudo, inclusive em nada

Patricia Lages|Do R7

Para a turma do politicamente correto, homem não pode se fantasiar de mulher
Para a turma do politicamente correto, homem não pode se fantasiar de mulher Para a turma do politicamente correto, homem não pode se fantasiar de mulher

A cartilha do politicamente correto se expande a cada dia com o firme propósito de nos convencer de que somos pessoas más e altamente preconceituosas e que, se mudarmos a nossa forma de falar, obedecendo cegamente o que eles ditam, todos os problemas do mundo serão resolvidos e seremos pessoas evoluídas.

E para determinar a maneira de nos comunicarmos — afinal, quem controla a forma de falar, controla também a forma de pensar — a turma da patrulha não vê limites no tempo e nem no espaço.

Embora a abolição da escravatura tenha sido assinada há quase 135 anos, não podemos mais nos referir aos escravos como escravos. Segundo os paladinos do amor, “utilizar a palavra escravo sugere que seja uma característica e condição inerente à pessoa, como se a chamasse de ‘ser humano’, sendo que é algo que foi imposto em algum momento da vida, ainda que tenha sido desde o ventre da mãe”. Por essa “razão”, o termo correto seria “pessoa escravizada”.

Se formos seguir essa “lógica”, então, também não podemos mais nos referir aos doentes como doentes, pois utilizar a palavra doente sugeriria que a doença é uma característica e condição inerente à pessoa, sendo que é algo que aconteceu em algum momento da vida, ainda que tenha sido desde o ventre da mãe. Sendo assim, o termo correto seria “pessoa adoecida”. O mesmo se aplicaria aos pobres que, ainda que tenham nascido em uma família pobre, não poderiam ser caracterizados pela pobreza, devendo ser chamado de “pessoa empobrecida”.

Publicidade

Até no Carnaval, onde toda e qualquer bizarrice é permitida, há uma nova — e ininteligível — regra: homens estão proibidos de se fantasiar de mulher. A justificativa é que “roupa de mulher não é fantasia” e que isso seria uma forma de ridicularizar as mulheres. Por outro lado, os mesmos donos de todas as virtudes dizem que não existe “roupa de mulher”, pois “roupa não tem gênero” e tanto homens quanto mulheres podem usar o que bem quiserem.

Mas é claro que esperar qualquer sinal de coerência nesse tipo de ideologia é demais, pois a intenção não é a proporção, a simetria ou a lógica, mas sim, a conveniência. Até porque, quando a ordem é doutrinar, dominar e submeter as pessoas, a coerência e o raciocínio lógico atrapalham todo o processo.

Mas fique tranquilo, pois você jamais será chamado de manipulado ou usado, mas sim, de “pessoa manuseada”.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.