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Análise: As pragas e o significado do voto nulo

Se você acha que votar nulo o exime de responsabilidades e vai fazê-lo dormir com a consciência limpa, precisa conhecer o conto do bosque encantado

Patricia Lages|Do R7

Brasileiros vão às urnas neste domingo
Brasileiros vão às urnas neste domingo Brasileiros vão às urnas neste domingo

Era uma vez um bosque encantado que, apesar de cheio de vida e beleza, passava os dias lamentando o fato de não ser mais aquela floresta densa e exuberante do passado. Nele, havia grande variedade de árvores frutíferas, muitas espécies de vegetação e uma infinidade de plantas com frutos e flores.

Por todo o bosque havia muitas citronelas, hortelãs e crisântemos que, sendo repelentes naturais, afastavam as pragas e protegiam toda vegetação. Um dia, porém, os pulgões, as lagartas e os gafanhotos resolveram se unir para convencer todos os seres do bosque de que as ervas e flores repelentes faziam mal a todos e, portanto, deveriam ser exterminadas. 

No início não tiveram sucesso, afinal, todos sabiam que eles não passavam de pragas. Mas, com o passar do tempo, todas as espécies foram se acostumando com a presença deles e já não os achavam tão ruins assim. Chegaram até a proibir que fossem chamadas de pragas. Que feio! Vamos chamá-los de insetos, assim como todos os demais.

As citronelas, hortelãs e crisântemos começaram a se preocupar com a displicência das outras espécies em permitir a chegada de mais pragas ao bosque e se uniram para mostrar que, apesar de parecerem inofensivos, aqueles insetos ainda eram pragas e que poderiam destruir todo o bosque.

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Poucos deram ouvidos, pois, envenenados pela lábia das pragas, começaram a crer nos conceitos e ideias que elas pregavam bosque afora: “vejam, essas vegetações repelentes não nos aceitam! É como o próprio nome diz: só servem para repelir! Nós queremos viver em paz com todos, queremos que todos sejam iguais, que ninguém seja tratado como nós temos sido tratados. Queremos justiça e igualdade para todos, queremos viver livremente entre vocês, mas elas não deixam. Elas é que são pragas, elas que devem ser destruídas!”

Como aliado, as pragas contavam com um arbusto pouco conhecido no bosque, o avelós. Certo dia, sob o conselho dos gafanhotos, o avelós levantou a voz na praça central, dizendo: por que repelir esses insetos sendo que há tantos outros que vivem entre nós? Ou permitimos que todos os insetos vivam no bosque ou não permitimos que nenhum deles viva!

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A maioria das árvores e das demais plantas não sabia muito bem quem era o avelós, mas como ele estava sempre acompanhado dos pulgões, lagartas e gafanhotos, devia ser uma boa espécie. Porém, a figueira, árvore mais sábia do bosque, alertou a todos que o tal avelós pertencia à família das euforbiáceas, e que produzia uma seiva tóxica capaz de cegar qualquer animal. Porém, a vegetação não ligou a mínima, afinal, elas não tinham olhos mesmo! Além do mais, não era a figueira que sempre ficava se achando melhor do que todo mundo? Cale-se, figueira! Nós também somos inteligentes e não precisamos de você, diziam todos!

Em meio à confusão e no calor das emoções, ficou decidido que seria realizada uma votação para definirem se ficariam com todos os insetos ou com nenhum. Os animais se abstiveram de votar, pois achavam-se muito mais fortes do que qualquer inseto e obviamente ficariam bem, qualquer que fosse a escolha. Eles não quiseram se meter em uma discussão boba daquelas, afinal, já tinham muitos problemas com que se preocupar.

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A votação foi feita e, por vontade da maioria, foi estabelecido que todos os insetos poderiam viver e se reproduzir livremente por todo o bosque, sem nenhuma restrição. As vegetações repelentes – causadoras de todos os problemas – foram eliminadas e todos estavam muito esperançosos, afinal, a igualdade estava reinando.

Com a reprodução descontrolada das pragas, toda vegetação começou a ser destruída até que não restasse nem mesmo uma única planta. Sem ter o que comer, os animais se revoltaram, afinal, eles não tinham sequer participado daquela votação estúpida. Não era culpa deles o que estava acontecendo, que injustiça! Nesse momento, o avelós, único arbusto que havia restado, aproximou-se e cegou a todos.

É isso que acontece quando as pragas, com ódio dos repelentes, convencem um bosque inteiro de que são inofensivas. E mesmo quem se abstém, achando-se acima do bem e do mal, vai sofrer as consequências das más escolhas dos outros.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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