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Análise: Constranger a verdade para impor a mentira

Chegamos ao ponto em que falar a verdade implica em ser constrangido, ofendido e cancelado. Realidade é a nova contravenção

Patricia Lages|Do R7

Não sabemos mais discernir o que é real e o que é falso
Não sabemos mais discernir o que é real e o que é falso Não sabemos mais discernir o que é real e o que é falso

“Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário”. A frase atribuída a George Orwell descreve bem a situação que estamos vivendo: um tempo em que ideologias e narrativas são colocadas acima da verdade dos fatos, da ciência, da biologia.

Muita gente já não consegue mais discernir o real do falso, ainda que seus olhos vejam e seus ouvidos ouçam. As emoções estão, mais do que nunca, guiando as atitudes, e sentimentos negativos como raiva, inveja e ódio estão presentes em cada frase, cada gesto, cada opinião. As redes sociais são prova incontestável desse fenômeno.

Como é de conhecimento geral, os sentimentos são capazes de ignorar totalmente a realidade e o bom-senso e podem fazer as pessoas entrarem em grandes enrascadas. A paixão, diferentemente do amor, causa tamanha cegueira que faz com que pessoas de boa índole entrem em relacionamentos abusivos e violentos, sem perceberem que estão caminhando sobre areia movediça.

Semelhantemente, a raiva parece causar uma espécie de cegueira e surdez seletivas, impedindo que as pessoas compreendam o que estão ouvindo ou enxerguem o que estão vendo. O raciocínio é bloqueado fazendo com que adultos se comportem como crianças, vivendo em uma bolha fantasiosa que dizem ser a “sua” verdade.

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São milhões de pessoas, por exemplo, colocando suas esperanças de um planeta sustentável em uma adolescente de tranças que se recusou a viajar de avião da Europa para Nova York para discursar na ONU - supostamente para não poluir o meio ambiente - mas atravessou o oceano em um veleiro construído com fibra de vidro, queima de combustíveis fósseis e vários materiais e meios poluente. Além disso, foi preciso que uma equipe de quatro pessoas viajasse de avião para levar a embarcação de volta ao seu lugar de origem.

Os cálculos apontam que a viagem foi mais poluente do que se ela estivesse a bordo de um dos muitos voos feitos de seu país para os Estados Unidos, sem nenhum impacto extra. Mas o que boa parte das pessoas enxergou, a despeito do óbvio, é que a garota, claramente fabricada pela mídia, é o símbolo da sustentabilidade. Não importa que fale uma coisa e faça outra, que não tenha nem sequer vivência, que venha de um país privilegiado e que não saiba nada a respeito da pobreza, miséria e outros males que assolam a vida de milhões de seres humanos.

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Afinal de contas, a imagem de um único urso polar morrendo no Polo Norte toca mais o coração da maioria das pessoas do que a imagem de crianças agonizando em estado de inanição. Muitos compartilham a primeira cena, posando de cidadãos conscientes, enquanto nem querem ver a segunda, pois desagrada e incomoda. A realidade não importa, mas sim, a narrativa, a emoção, a história fantasiosa que foi criada em cima de uma grande encenação. Viva os ursos, danem-se as pessoas. “Gosto mais de bicho do que de gente”. Não é essa uma das frases da moda?

A justificativa para tudo isso também reside em uma frase infantil: se todo mundo está falando/fazendo/acreditando, só pode ser verdade. E assim, outras duas frases, que não são usadas pela turma da lacração, se mostram extremamente atuais:

“Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade”, dita por Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, e “É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que foram enganadas”, de Mark Twain. É isso.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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