Como bem disse a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, “não existe dinheiro público, existe apenas dinheiro do pagador de impostos”. Portanto, os bilhões que estão sendo injetados na economia por meio dos benefícios e subsídios governamentais, no fim das contas, sairão dos bolsos de todos nós.
Historicamente a corda dos impostos altos sempre arrebenta para o lado dos mais pobres, portanto, desta vez não deve ser diferente. É certo que se o governo não tomar providências para socorrer empresas e empregos a economia vai quebrar, mas como não existe almoço grátis, cedo ou tarde a conta vai chegar e a divisão de quem paga quanto normalmente não é justa.
O Brasil é o quarto país que menos tributa as rendas mais altas. Isso porque a base de cálculo do imposto de renda prevê uma taxa de 27,5% para salários superiores a R$ 4.664,68 e, diferentemente de outros países, não há progressão da alíquota para salários muito acima disso.
Matematicamente, significa que as pessoas com rendas mais altas acabam pagando menos impostos que os de renda mais baixa. Segundo a UHY Internacional, os ricos no Brasil pagam 32% menos impostos do que em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha. Por aqui, o sistema tributário não taxa a riqueza, mas sim, o consumo e, com isso, quem carrega o país nas costas é quem tem menos condições de fazê-lo.
Que as contas no Brasil não fecham não é novidade para ninguém. São poucas pessoas com muito – ganhando cada vez mais – e muitas pessoas com pouco ou quase nada – perdendo cada vez mais. E, em meio a tudo isso, a corrupção que afundou o país nos últimos anos e abocanhou fatias imensas do dinheiro de todos nós, pagadores de impostos, está fazendo mais falta do que nunca.
O novo coronavírus pode matar, mas não é o único mal que nos assola. O desemprego e a quebra da economia talvez matem muito mais e, por fim, a corrupção tem feito um número de vítimas muito maior do que tudo isso junto ao longo de décadas. E para piorar, a corrupção está enraizada em todas as camadas da sociedade.
Uma das preocupações do governo em relação ao auxílio emergencial são as possíveis fraudes que podem ocorrer. Ou alguém duvida de que muitos oportunistas tentarão receber o benefício sem que tenham direito ou necessidade?
De fato, o Brasil não é para amadores. Mas nós podemos mudar isso fazendo a nossa parte e parando de confundir oportunidades com oportunismo.
Patricia Lages
É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. Ministra cursos e palestras, tendo se apresentado no evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard (2014). Na TV, apresenta o quadro "Economia a Dois" na Escola do Amor, Record TV. No YouTube mantém o canal "Patricia Lages - Dicas de Economia", com vídeos todas as terças e quintas.