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Análise: Cultura do cancelamento, cultura do emburrecimento

Toda unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues. Mas a pessoa que pensa diferente de uma minoria histérica acaba cancelada

Patricia Lages|Do R7

Internet deu voz a uma minoria barulhenta
Internet deu voz a uma minoria barulhenta Internet deu voz a uma minoria barulhenta

Pessoas que trabalham duro, que precisam fazer o tempo render para dar conta de todas as suas responsabilidades não têm tempo de ficar esperneando na internet cada vez que vêm algo que não lhes agrada. Mas, ao contrário disso, há os desocupados que, por saberem que suas vidas não têm nada de interessante, gastam tempo em cuidar das dos outros.

O ócio é tanto que elas se dão ao luxo de reparar em absolutamente tudo o que os outros fazem, falam, com quem andam e, pasmem, até o que pensam. Prova disso é quando nos deparamos com postagens afirmando que “Fulano pensa que é melhor do que os outos”. É... o pessoalzinho da internet tem poderes impressionantes! 

A questão é que esses nanicos de internet gritam alto e fazem qualquer meia dúzia parecer uma multidão. Eles se automultiplicam criando contas fake e surram seus teclados sem trégua, destilando todo ódio que cultivam dentro de suas cabecinhas vazias. Mas apesar de estarem vazias, suas mentes são tão estreitas que a amplitude do bom senso simplesmente não cabe.

E o barulho que fazem chega a assustar aqueles que fazem tudo e qualquer coisa para lucrar mais alguns tostões. Não faltam empresas que se autopromovem ao ceder – de forma altamente calculada – aos apelos da turma do mimimi que não pode ser contrariada. Ao primeiro sinal de postagens que exigem um pouquinho mais de inteligência e pesquisa, um nó se forma em suas cabecinhas ocas e só lhes resta correr para as redes exigindo o “cancelamento” de seus desafetos.

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A estupidez – característica sempre presente quando a histeria toma conta – passa por cima de qualquer razão e, obviamente, não se dá o menor valor a argumentos plausíveis. Na falta deles basta repetir a mesma ladainha de sempre: “fascista, nazista, terraplanista, misógino, homofóbico!” Porém, basta pedir aos destiladores do “ódio do bem” que definam o significado de cada uma dessas palavras para ter certeza de que não passam de papagaios. São simplesmente pessoas que reproduzem o som do que ouvem, mas não têm ideia do que se trata.

Mas o desconhecimento das palavras não é o único problema da turma do cancelamento, pois eles também não sabem absolutamente nada de história. Só que, como todo mundo que vive de aparência, é preciso eliminar tudo o que desmonte seu personagem. Logo, se não conhecem – nem querem conhecer – a história, eles a apagam e fingem que fatos e dados nunca existiram.

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O mundinho do cancelamento é pequeno, tosco e estúpido, mas como toda carroça vazia, faz muito barulho por onde passa. Quanto às empresas que cedem à gritaria, demitindo pessoas, recolhendo produtos e suspendendo campanhas, suas atitudes nada têm a ver com consciência social ou preocupação com minorias. Trata-se apenas de publicidade gratuita, o que não exige estratégia, investimento ou trabalho. Enquanto a gritaria der lucro é esse tipo de coisa que teremos de aguentar.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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