Todos os anos, milhões de estudantes saem das escolas sem saber lidar com situações práticas
Reprodução/PexelsCerta vez, uma amiga com duas faculdades e pós-doutorado pediu orientação sobre como “processar o banco” que, há mais de um ano, vinha descontando de forma “irregular” as parcelas de seu empréstimo pessoal, que foi usado como capital de giro para sua empresa. Ela contou ter solicitado R$ 40 mil, a uma “taxinha” de 2% ao mês, com prazo de 48 meses para pagar, mas que o banco estava cobrando mais de R$ 1.300 por mês. “Se isso estivesse correto, eu pagaria um total de mais de R$ 62 mil, quando deveria pagar apenas R$ 40.800”, concluiu ela de forma bastante indignada.
Não sei o que é mais errado nessa história: se o fato de ela acreditar que o banco acrescentaria 2% sobre o total emprestado para, então, dividi-lo por 48 parcelas fixas; não ter parado por três segundos para multiplicar o valor da parcela pelo prazo e conferir o montante final; ter levado mais de um ano para perceber o suposto erro; ou ter feito um empréstimo como pessoa física para socorrer uma pessoa jurídica.
Quando expliquei que juros compostos são calculados mês a mês sobre todo o prazo, que ela deveria ter usado seu celular de última geração para fazer uma simples multiplicação antes de assinar o contrato, que seu controle financeiro deveria ser feito com muito mais regularidade do que uma vez por ano, e que a diferença entre produtos bancários para pessoas físicas e jurídicas não existe por acaso, ela percebeu que, no que se refere a finanças, precisava voltar ao jardim de infância.
Todos os anos, milhões de estudantes saem das escolas sem saber falar em público, nem abrir seu próprio negócio e sem noção alguma sobre: nutrição, primeiros socorros, marketing pessoal, comportamento consumidor, gerenciamento de tempo, pagamento de impostos, investimentos, técnicas de negociação, interpretação de contratos, direitos e deveres civis, planejamento familiar e um sem-fim de coisas que, ao que tudo indica, o governo não tem o menor interesse em incluir — na prática — na grade curricular.
Para quebrar esse ciclo é importante que todos saibam, principalmente os pais, que o estudo oferecido pelo governo sempre buscará atender aos interesses do governo. Tomar para si a responsabilidade pela construção do próprio conhecimento, buscando aprender aquilo que realmente interessa é, cada vez mais, um dever de cada um de nós.
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