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Análise: Em um mundo de insegurança, todos somos vítimas

Há muito tempo, não podemos sair a qualquer hora, nem irmos a qualquer lugar, pois a violência faz com que sejamos vítimas. Como conviver com isso?

Patricia Lages|

Depois de uma temporada de trabalho em Londres, fui transferida para o Rio de Janeiro. Todos diziam que no Rio eu me sentiria muito mais livre por poder usar roupas leves no lugar dos casacos pesados, sandálias rasteirinhas em vez de botas e não precisaria me preocupar em sair de casa com guarda-chuva. Porém, o que senti ao chegar na Cidade Maravilhosa estava longe de ser comparado à liberdade que me prometeram...

Em Londres, havia chuva quase todos os dias e um inverno bastante rigoroso. Mas eu podia sentar no metrô, abrir o computador e aproveitar os 45 minutos de trajeto para estudar sem me preocupar em ser roubada.

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No Rio, se fosse usar ônibus ou metrô, teria de me adaptar. Era preciso cumprir um check list meio surreal para mim naquela época: deixar o relógio em casa, não usar nenhuma joia (nem algo que parecesse joia), não usar bolsa de grife, camuflar muito bem o laptop (se fosse imprescindível levá-lo) e jamais usa-lo durante o trajeto, deixar o celular desligado, pois se tocasse iria “chamar ladrão”.

“Não ande muito ‘arrumada’ aqui, paulista!”, foi um dos primeiros conselhos que ouvi.

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Não que São Paulo – minha cidade natal e onde vivo atualmente – seja diferente disso, mas no Rio eu não sabia quais eram os locais mais violentos e, por isso, me limitava a ir de casa para o trabalho e do trabalho para casa. No fim das contas, me sentia presa em uma cidade linda e realmente maravilhosa. Em São Paulo, conheço os lugares com maior concentração de assaltos e simplesmente não vou, sei onde estacionar o carro (e onde não ir com meu carro) e quais cuidados devo ter para me proteger o quanto posso.

Por isso, quando me deparo com notícias de que mulheres sofreram assédio, atentado violento ao pudor e até estupro em baladas, bares, raves e similares, travo uma batalha interna para me conformar de que, hoje em dia, não devemos mais nos expor a locais assim.

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Quando vejo uma pessoa falando ao celular no centro da cidade, fico com o coração acelerado e me pergunto: “será que essa pessoa não percebe que está facilitando demais?” Se ela for roubada será a vítima, não há dúvida, mas isso não torna nossas cidades mais seguras, ao contrário, a displicência das pessoas só tem servido para encorajar os bandidos.

É injusto? Claro que é, porém, o ditado “meu corpo, minhas regras” não reprime assédio, estupros, roubos e todo tipo de violência. É uma frase que soa muito bem, mas funciona muito mal. As regras não são respeitadas há anos e isso nos torna mais vítimas do que nunca.

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Quem não gostaria de sair de casa com os vidros do carro abertos, sacar dinheiro em um caixa eletrônico tranquilamente e frequentar todo e qualquer lugar vestindo o que quisesse?

A questão é, no mundo real, não podemos. Cabe a nós protegermos nosso corpo assim como protegemos nossos bens materiais. Enquanto essa realidade permanece, nós, as vítimas, temos de nos adaptar e sermos responsáveis pela nossa própria segurança. Infelizmente.

Patricia Lages

É jornalista internacional, tendo atuado na Argentina, Inglaterra e Israel. É autora de cinco best-sellers de finanças e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. Ministra cursos e palestras, tendo se apresentado no evento “Success, the only choice” na Universidade Harvard (2014). Na TV, apresenta os quadros "Economia doméstica" no programa "Mulheres" TV Gazeta e Record TV e "Economia a Dois" na Escola do Amor, Record TV. Na internet mantém o canal "Patrícia Lages - Dicas de Economia", com vídeos todas as segundas e quartas.

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