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Análise: Medo é a mais nova virtude

Manter-se em total isolamento, higienizar tudo que entra em casa e lavar as mãos freneticamente são os mais novos sinais de virtude

Patricia Lages|Do R7

Dirige sem máscara ainda que sozinho? 'Turma das virtudes' costuma destilar o 'ódio do bem'
Dirige sem máscara ainda que sozinho? 'Turma das virtudes' costuma destilar o 'ódio do bem' Dirige sem máscara ainda que sozinho? 'Turma das virtudes' costuma destilar o 'ódio do bem'

Se você não demonstra ter se tornado neurótico por limpeza, se não faz questão de deixar claro que consome litros de álcool gel, se dirige o próprio carro sem máscara, ainda que sozinho, se não diz em tom solene, para cada pessoa que encontra, que gostaria muito de cumprimenta-la, mas precisa manter distanciamento para sua segurança e, principalmente, se está tentando voltar à vida normal, prepare-se para receber os mais diversos insultos por parte da “turma das virtudes”, aquela também conhecida por destilar o chamado “ódio do bem”.

É que em tempos de pandemia, quando inexplicavelmente os governos passaram a supervalorizar vidas – aquelas mesmas que jamais ligaram a mínima –, a mais nova sinalização de virtude é o medo. E, obviamente, quem não demonstra ter a alta dose de medo exigida para alcançar o nível de virtude é um negacionista, irresponsável e genocida. Enfim, o novo termômetro “do bem” é: quanto mais medroso, mais virtuoso.

Se você quer ser a virtude em pessoa, não é preciso manter boa conduta, ser correto, verdadeiro, fiel ou ter moral ilibada, pois a “nova virtude” tem outra lista de requisitos. Aqui vão três deles:

Lugar de criança é em casa

Diga que as escolas devem permanecer fechadas por serem locais com alto índice de contágio, mesmo que tenham sido liberadas para as eleições e mesmo que não haja nenhum dado concreto que confirme a informação. Diga que as crianças somente ficarão seguras se permanecerem dentro de casa, ainda que pedagogos, educadores, psicólogos e psiquiatras afirmem exatamente o contrário.

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E faça vista grossa para os casos de as crianças frequentarem parques, praças, festinhas ou saírem para quaisquer outros lugares. Nesses casos você deve dizer que o índice de contágio entre elas é muito baixo. Mas só nesses casos, hein!

Economia a gente vê depois

Não se atreva a dizer que as pessoas precisam sair para trabalhar só porque têm filhos para sustentar e contas a pagar. Não é hora de falar em dinheiro, é momento de focar apenas em manter-se vivo. Para esses insensíveis que não amam a vida, faça sempre perguntas como: “a vida tem preço?” ou “o que você vai fazer quando um parente seu precisar de um respirador?” E fique à vontade para tocar o terror usando frases do tipo: “vai trabalhar, vai mesmo, sai de casa! Aproveita e junta bastante dinheiro para pagar o enterro da família, tá?”

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Ignore totalmente o aumento da pobreza, os recordes no número de desempregados e que o Brasil teve o maior índice de inflação entre os países emergentes durante a pandemia – segundo pesquisa da escola de negócios de Harvard desenvolvida por Alberto Cavallo – e que milhares de empresas fecharam as portas sem ter qualquer esperança de reabertura por conta de dívidas acumuladas que ainda terão de pagar.

O único inimigo é o coronavírus, só ele e nada mais que ele

As únicas mortes que realmente importam são as causadas pela covid-19. Tenha na ponta da língua o número atualizado de infectados e mortos, mas não se atente às mortes por nenhuma outra causa, ainda mais se estiverem ligadas aos malefícios da quarentena. Aliás, nem pense em dizer que a quarentena traz malefícios, pois ela tem que ser tratada como a medida número um em prol da vida, ainda que a própria OMS (Organização Mundial de Saúde) tenha sido clara em não recomendar o confinamento a fim de evitar o agravamento da pobreza.

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Não se atreva a mencionar os dados da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a fome que dão conta de que, além das 820 milhões de pessoas que já sofriam desse mal, a pandemia acrescentou mais 132 milhões ao montante. Ignore solenemente que quase 1 bilhão de pessoas no mundo passarão fome e, portanto, morrerão ou tentarão remediar doenças e consequências em razão dela. E, claro, não diga jamais que a “vacina” para erradicar esse mal da vida de 15% da população do planeta existe desde sempre: comida.

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A única coisa que importa agora é vacinar – às pressas – 100% da humanidade contra uma doença cuja letalidade é inferior a 1%. Para isso, obviamente, é necessário fazer com que todas as pessoas confiem cegamente em algo cuja eficácia é questionável. Mas isso é moleza quando o raciocínio é obscurecido pelo medo, ou melhor, pela nova virtude.

Resumindo: repita tudo o que a grande mídia disser, ainda que não faça o menor sentido. Dessa forma você fará parte da turma das virtudes e poderá apontar o dedo para todos os genocidas que cruzarem o seu caminho, destilando todo seu ódio do bem.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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