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Análise: O desejo pelas ilusões e o vício em mentiras confortáveis

Ditadura da felicidade é ainda mais forte em dezembro, mês em que todos têm de parecer felizes ainda que nada seja real

Patricia Lages|Do R7

Na sociedade de consumo é preciso ter muitas coisas para alcançar a felicidade
Na sociedade de consumo é preciso ter muitas coisas para alcançar a felicidade Na sociedade de consumo é preciso ter muitas coisas para alcançar a felicidade

Em seu livro Felicidade – Ciência prática para uma vida feliz, a médica psiquiatra e escritora best-seller Ana Beatriz Barbosa Silva descreve ser ou ter felicidade da seguinte forma:

“Em uma sociedade materialista, a maioria de nós vive sem ao menos suspeitar o que de fato é a felicidade como algo não palpável. Sem um mínimo de autoconhecimento, perdemos o poder de sermos livres e libertos dos clichês e estereótipos sociais de felicidade, como a autoexposição, o consumo e tantas outras formas ilusórias. Acabamos por aceitar passivamente o que nos vendem como passaportes infalíveis para o modo ‘ter’ da felicidade.”

Em outras palavras, a sociedade altamente consumista em que vivemos convenceu grande parte das pessoas de que não só é necessário ter muitas coisas para alcançar a felicidade, como também é preciso exibir essa felicidade para o maior número de pessoas, o tempo todo.

Para isso, as redes sociais funcionam como um shopping da felicidade, onde cada “lojista” deve transformar seu perfil em uma espécie de vitrine, exibindo seus melhores “produtos” para atrair o maior número de “clientes”, no caso, seguidores que admirem e até invejem seus altos níveis de felicidade.

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Navegar pelas redes sociais, principalmente neste mês festivo, é como fazer uma viagem pelos mais variados destinos, onde todos parecem estar vivendo o ápice de suas vidas quando, na verdade, os recortes ali exibidos são meros anúncios classificados, cuja função é vender um produto fictício que jamais será entregue.

Apesar de que, no fundo, as pessoas saibam que tudo aquilo não passa de uma representação – e da busca incessante por autoafirmação de quem enche seus perfis de “felicidade” – muitas ainda se deixam enganar. Sobre essa necessidade de viver num mundo paralelo e irreal, Freud explica: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e não vivem sem elas.”

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Nossa sociedade está cheia de vícios e, entre eles, o da dependência em mentiras confortáveis, daquelas bem fáceis de engolir, mas que agem como os carboidratos: são saborosos, trazem sensação imediata de prazer, mas como não fornecem os valores nutricionais necessários, logo a saciedade passa. Logo em seguida, quando esses carboidratos se transformam em indesejáveis depósitos de gordura, vem a frustração e, em consequência dela, surge uma necessidade ainda maior de recorrer novamente a eles.

Assim como a alimentação saudável é indispensável para se ter um corpo são, fugir das ilusões é essencial para uma mente sã. A verdade é que nem sempre estaremos felizes, mesmo quando a ditadura da felicidade diz que devemos estar. Assim como nem sempre estaremos com fome, mesmo diante de uma mesa farta e repleta de iguarias.

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Somos indivíduos autônomos, diversos e com pensamentos e objetivos diferentes. Deixar-se levar por essa sede de ilusão de que a felicidade é algo perene é como entrar em uma linha de produção onde a personalidade de cada um é trocada por um molde pré-fabricado que iguala e rebaixa a todos a meras marionetes.

A ordem natural das coisas mostra que colheremos amanhã aquilo que plantarmos hoje. Portanto, quem semeia ilusões, colherá nada mais que frustrações. Mas contra a realidade indigesta, sempre haverá mentiras saborosas e fáceis de digerir. Escolha a sua dieta.

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