Em comemoração ao Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia e Transfobia, 17 de maio, a rede de fast-food Burger King publicou um anúncio utilizando linguagem neutra ou não-binária. “Bandeiras de ‘todes’” foi o título escolhido para a peça que mostra sete coroas com cores representando cada movimento.
No anúncio, não há coroa representando os heterossexuais, logo, subentende-se que essa classe de pessoas não faz parte do todo na visão da empresa. Nesse contexto, é como se homens e mulheres que se identificam como homens e mulheres fizessem parte de um time que joga contra todas as pessoas que optaram por outras orientações sexuais. Porém, quem conhece um pouco do universo LGBTQ+ sabe que há muita rivalidade entre seus diversos grupos, o que inclui o que tanto atacam: preconceito. E quanto mais se dividem, maior se torna a falta de consenso.
Em sua conta no Twitter, o Burger King recebeu inúmeras críticas pelo uso incorreto da língua portuguesa e por dar a impressão de que estava apenas tentando “lacrar”, ou seja, se autopromover com a publicação. “Todos nós respeitamos a diversidade, então respeitem a língua portuguesa”, tuitou uma internauta, enquanto outro escreveu “Entenda, uma coisa é respeito, outra é lacração. Por falar nisso, me deu vontade de comer um Big Mac”. Em resposta aos comentários, o Burger King começou a atacar e acusar vários internautas de serem “preconceituosos”. Devido ao boicote que começou a se formar por conta do posicionamento nada tolerante por parte da lanchonete, a publicação foi apagada.
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Mas a interação mais polêmica ficou por conta da recomendação que o próprio Burger King fez a um de seus críticos para “passar bem longe” de suas lojas. Adriano Araújo respondeu o anúncio dizendo “Obrigado por avisar, não passo nem perto dessa lacração”, e a lanchonete rebateu em português mal escrito: “Depois dá uma olhada no nosso site para verificar onde fica nossas lojas, assim você pode passar bem longe mesmo, pois não toleramos preconceito!”
Por conta da campanha, que acabou mostrando que a rede só tolera quem concorda com suas opiniões e que não tem tato para lidar com críticas, a assessoria de comunicação emitiu uma nota. “Reconhecemos a complexidade do tema levantado em nossos canais digitais. Nós, do BK, acreditamos que todas as pessoas são bem-vindas e fazemos questão de reforçar a necessidade e a importância de assuntos como esse para a sociedade. Consideramos e absorvemos todas as manifestações e agradecemos por elas. Quanto mais conhecemos e discutimos, mais aprendemos e mais informados estamos para lutar contra a LGBTfobia".
Nem sempre quem lacra, lucra. Aliás, quase nunca.
Autora
Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.