Patricia Lages Análise: Vitimização é o absorvente dos reais problemas

Análise: Vitimização é o absorvente dos reais problemas

Distribuição gratuita de absorventes é vetada e parlamentares terão de trabalhar em outra invencionice para vitimizar a mulher

Parlamentares acham que dar oito absorventes por mês levará mulheres de volta às salas de aula

Parlamentares acham que dar oito absorventes por mês levará mulheres de volta às salas de aula

Pixabay - 12.07.2021

Não há limites para a criatividade de quem quer a todo custo vitimizar as mulheres por simplesmente serem mulheres. Além de vítimas do sistema, da sociedade, dos homens, do mundo corporativo e de mais um sem-fim de algozes, agora a mulher passou a ser vítima do próprio corpo.

Invencionices como “pobreza menstrual” e “programa de dignidade íntima” preveem gastos bilionários do dinheiro do contribuinte, como se distribuir oito absorventes por mês “gratuitamente” fosse solução para alguma coisa. O Brasil não é um país com falta de problemas, porém, a “lacrolândia” não tem o menor interesse em resolvê-los, preferindo criar ideias caras e inúteis, mas que pareçam baratas e funcionais.

Enquanto os autores do projeto de lei que previa a distribuição de absorventes femininos
alegam que a “pobreza menstrual” é um dos principais causadores da evasão escolar, um estudo do Unicef aponta que cerca de 713 mil meninas no Brasil moram em casas que não têm banheiro ou chuveiro. Essas meninas também não têm acesso a itens básicos de higiene, começando por água e sabão, porém, parlamentares acham que dar oito absorventes por mês para cada uma – ao custo de R$ 80 bilhões – as levará de volta às salas de aula.

Estariam eles realmente preocupados com a evasão escolar? Tire suas conclusões diante dos dados a seguir, fornecidos pelo Observatório do Marco Legal da Primeira Infância. Na região Norte do país, 75% das escolas não têm saneamento básico. No Nordeste são 42%, no Centro-Oeste 39%, no Sudeste 24% e no Sul 6%. Sem água encanada os alunos têm doenças gastrintestinais frequentemente, o que os afastam das salas de aula talvez por muito mais do que 45 dias por ano. Que garantam primeiro o básico para depois posarem de defensores da dignidade.

Mas quem liga para a verdadeira pobreza? Quem liga para a real falta de dignidade dos estudantes, sejam eles meninos ou meninas? A proposta lacradora/vitimizadora é vamos dar oito absorventes por mês para cada menina pobre, torrando bilhões dos cofres públicos (que nem mesmo os autores do PL sabem como seriam custeados) para não resolver coisa alguma.

Qualquer parlamentar com o mínimo de conhecimento sabe que não basta criar um PL, mas é necessário indicar seu custeio, incluindo todas as despesas que ele geraria. Não basta dizer que o preço de cada absorvente seria de apenas 1 centavo sem dizer quanto custaria a distribuição ou quantos funcionários seriam necessários para administrar a logística em todo país. Esse foi apenas mais um projeto de lei sem pé nem cabeça que tivemos de bancar.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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