Sérgio Cabral na quadra da escola de samba União Cruzmaltina
Reprodução/Instagram"De degrau em degrau a descoberta de um novo Cabral." É com esse título que a escola de samba carioca União Cruzmaltina escreve mais uma página vergonhosa da história recente deste país que não se cansa de nos surpreender. Seu samba-enredo de 2024 vai homenagear o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, condenado a 425 anos e 20 dias de prisão — e que jamais foi inocentado.
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O ex-governador foi condenado em 23 processos, alguns deles por instituir como regra o pagamento de 5% de propina sobre os contratos da Secretarial Estadual de Obras, além da "taxa de oxigênio", que lhe rendia mais 1% sobre os valores recebidos pelas empreiteiras.
Na última condenação, em maio de 2007, Cabral recebeu mais de R$ 78 milhões em propinas da Odebrecht pelo beneficiamento em obras como o PAC das Favelas, a construção do Arco Metropolitano e da Linha 4 do Metrô e a reforma do Maracanã para a Copa de 2014. De 2006 a 2017, só a operação "Fatura Exposta", da qual o ex-governador confessou ter feito parte, desviou cerca de R$ 300 milhões.
Mas, independentemente de tudo isso, suas prisões foram revogadas (inclusive a domiciliar) por causa do "excesso de prazo nas prisões preventivas" e porque o réu "não oferece risco à ordem pública".
Outra decisão que ajudou a soltura de Cabral veio do Superior Tribunal Federal (STF), em 2021, com a anulação da condenação dada pelo juiz Marcelo Bretas a mais de 14 anos de prisão por corrupção na área da saúde. Na ocasião, o STF decidiu que Bretas não tinha competência para julgar o processo.
Desde então, o ex-governador milionário pode circular livremente com sua tornozeleira eletrônica, o que inclui ser homenageado pela União Cruzmaltina com muita folia e bebida alcoólica, como mostram as fotos do evento realizado no último domingo (23).
Cabral samba na cara da sociedade enquanto parte da imprensa se limita a noticiar com manchetes ridículas ao destacar que o descondenado festejou com "samba no pé" e "muito beijo na boca".
E é assim que este país desce — não apenas de degrau em degrau, mas em alta velocidade — rumo a um futuro sombrio, em que uma sociedade hipócrita e cheia de idiotas úteis insiste em gritar aos quatro ventos que, por aqui, o crime compensa.
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