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Parede falsa com respiradores, mas tudo está “sob controle”

Foram encontrados escondidos 19 respiradores em hospital no Pará, mas governo afirma que nenhum paciente foi prejudicado

Patricia Lages|Do R7

Respirador que é usado para pacientes em casos críticos de covid-19
Respirador que é usado para pacientes em casos críticos de covid-19 Respirador que é usado para pacientes em casos críticos de covid-19

O Hospital Regional Dr. Abelardo Santos, no município de Icoaraci, a 20 quilômetros de Belém (PA), é referência no tratamento à covid-19. A instituição tomou conta dos noticiários não por sua luta no combate à pandemia, mas sim, em razão de uma descoberta inusitada.

Durante uma vistoria, que aparentemente tinha tudo para ser apenas um procedimento padrão devido à troca de gestão, foi encontrada uma parede falsa escondendo 19 respiradores novos. Segundo funcionários do hospital, foi preciso quebrar o local para poder retirar os aparelhos. Apesar disso, o governo do estado nega que a parede fosse falsa e afirma que nenhum paciente foi prejudicado.

Segundo informações do MP-PA (Ministério Público do Pará), no início da pandemia foram adquiridos 400 respiradores ao preço de R$ 126 mil cada, somando um total de R$ 50,4 milhões. Porém, as primeiras 152 unidades entregues não puderem ser instaladas. Suspeitando de fraudes nos contratos emergenciais sem licitação, o MP Pará deu início a uma investigação conjunta com o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. A Polícia Civil do estado também deu início, em outubro de 2020, à operação Quimera para apurar supostas fraudes nas compras dos ventiladores por parte da Secretaria Municipal de Saúde de Belém.

Os primeiros aparelhos com defeito foram devolvidos e, segundo informações da Procuradoria Geral do Estado, o valor de R$ 25,2 milhões – referente ao pagamento de 50% do contrato – foi devolvido aos cofres públicos. O governador Helder Barbalho, em um vídeo divulgado em suas redes sociais, declarou: “Vamos lutar para rapidamente garantir que novos respiradores possam chegar e para que novos leitos de UTI sejam abertos”. Ao que tudo indica, os novos respiradores chegaram, mas, pelo menos 19 deles, nunca foram instalados em leitos de UTI.

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Se o preço pago pelos respiradores escondidos na parede falsa foi de R$ 126 mil como as unidades anteriores, estamos falando da ocultação de quase R$ 2,4 milhões do dinheiro dos contribuintes. Mas o que jamais poderemos contabilizar são as vidas de pacientes que podem, sim, ter sido prejudicadas – e até mesmo perdidas – pela falta dos aparelhos. E, ainda que tenhamos a boa vontade de considerar que esses 19 respiradores realmente não tenham sido necessários naquela unidade hospitalar, por que não foram encaminhados para outro local?

A cada dia temos mais e mais provas de que a pandemia no Brasil tem servido muito bem aos interesses de verdadeiras quadrilhas que sempre saquearam o país, mas que agora o fazem escondendo-se atrás da parede falsa de salvar vidas. Que todas as paredes caiam e que tudo o que há de oculto nelas venha ser exposto. Nunca foi por vidas, sempre foi por intere$$e.

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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