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Recado do STF: 'Prendam suas cabras que meu bode está solto!'

André do Rap, um dos líderes do PCC, foi posto em liberdade e já pode retomar seus negócios graças ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello

Patricia Lages|Do R7

Um dos líderes do PCC foi posto em liberdade graças ao ministro Marco Aurélio Mello
Um dos líderes do PCC foi posto em liberdade graças ao ministro Marco Aurélio Mello Um dos líderes do PCC foi posto em liberdade graças ao ministro Marco Aurélio Mello

Vamos trabalhar a nossa imaginação neste feriado prolongado? Imagine um país assolado por diversas organizações criminosas mantidas pelos altos lucros advindos do tráfico de drogas. O crime organizado nesse país tem muito mais recursos que a polícia, possui até armamentos de uso exclusivo das forças armadas, ainda que ninguém saiba explicar como isso é possível.

Mas, mesmo os bandidos tendo inúmeras vantagens sobre a força policial, um de seus líderes é capturado em sua mansão cinematográfica localizada em um paraíso na terra chamado Angra dos Reis, onde havia não um, mas dois helicópteros, além de uma lancha. Trata-se de um dos maiores traficantes, responsável pela comercialização de toneladas de uma droga chamada cocaína, e que havia sido condenado em primeira instância a mais de 15 anos de prisão.

Agora imagine que, depois de todo esse trabalho, o condenado não chega a passar nem sequer um ano na cadeia, mas é solto por decisão de um ministro da mais alta corte da justiça. O bandido diz à justiça que cumprirá todas as regras e fornece dois endereços onde poderá ser encontrado a qualquer momento. Como estamos na esfera da imaginação, a justiça acredita no traficante e o libera baseada em uma lei criada para uma coisa, mas que funciona para outra. O bandido deixa a cadeia saindo pela porta da frente e com a serenidade de quem sabe que encontrará do lado de fora toda estrutura que necessita para dar continuidade ao seu negócio milionário.

Depois de algumas horas, outro ministro aparece e decide cassar a soltura, afinal, trata-se de um criminoso de alta periculosidade e que deu muito trabalho para ser preso. Imagine só a quantidade de tempo, pessoal e recursos financeiros que foram investidos para que essa façanha fosse realizada! Porém, temos de nos lembrar que o crime é organizado e tem muitos recursos. Logo, uma vez que se viu em liberdade, o bandido – que jamais pensou em cumprir o que prometeu – segue imediatamente para outra cidade e, segundo investigadores, parte de avião para um país vizinho. É preciso que a história tenha fortes emoções, não é mesmo?

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Diante disso tudo, a polícia é mobilizada em várias partes do país e novamente são investidos altos recursos financeiros para recapturar e prender o bandido que já estava preso. Ah! Eu mencionei que esse país está em plena crise econômica por ocasião de uma pandemia causada por um vírus do qual se sabe pouca coisa? Perdão! Em meio a tantos detalhes acabei deixando esse passar... e, pensando bem, tem mais um: o ministro que mandou soltar ficou zangado com o que mandou prender. Ele se sentiu injustiçado e sustenta que o bandido não deve ser considerado um foragido (embora ele seja um foragido, uma vez que não está onde disse que estaria). O ministro acha um absurdo que o bandido fique “tanto tempo” em prisão provisória, portanto, o habeas corpus não deve ser cassado enquanto o bandido não deve ser caçado. Faz sentido essa história para você? Não? Já sei, foi muito trabalhoso ter de imaginar todo esse enredo em pleno feriado, não é? Bem, se serve de consolo, você não precisa imaginar mais nada, pois a história é bem real e é possível acompanhar o desenrolar nos noticiários de TV no conforto do seu lar. Só não esqueça de trancar bem a porta e guardar as suas cabras, afinal, o bode está livre, leve e solto.

Autora

Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record.

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